sábado, agosto 14, 2010

Pedaços de uma história mal contada

Sob o efeito do cigarro recarrego baterias. Ouço o eterno ranger de uma máquina que não resultou. O plano era brilhante, mas todo o brilhantismo morreu aí, no plano.
Processos alternativos ao plano? Não foram calculados pois o projectista cegou com o orgulho de tamanha ideia e jurou a pés juntos que tudo estava garantido.
Saio à rua, caminho sozinho e tropeço numa pedra. Caio. Quem me dera possuir mais equilíbrio para não passar o tempo a cair!
Já em casa, encosto-me à garrafeira, na bela companhia de um Favaios de 1999. Após meia garrafa, esqueço todo o desequilibrio e vergonha que sou, e um novo desequilibrio instala-se em mim, que me impede de chegar à cama. Acho que vou ficar por ali; a casa não possui nada que me possa dar a mão.

Mesmo antes de adormecer, enquanto encaro uma garrafa de Martini de perfil, sons de culpa ecoam na minha cabeça. Perdi a batalha e vou perder a guerra. O mais natural seria desistir, entregar-me e viver aprisionado num campo de concentração, com trabalhos forçados sob as ordens de um qualquer morcão. Mas não, eu não sou dos que desistem, eu não recebo ordens. Sou radical ao ponto de só pensar nas consequẽncias do que faço após já o ter feito; não vou sofrer mais. Levanto-me e salto a trincheira, com os braços no ar. Alguns inimigos aproximam-se de mim, para me apanhar e encarcerar e, nesse momento, dou os meus golpes finais com toda a minha força. Não apanhei os inimigos que queria apanhar. Dou os golpes finais numa guerra de 19 anos e, posteriormente, caio no chão lamacento., bazado por chumbo quente, num ar impregnado de pólvora e dor. Enquanto voava ao encontro do solo, pensei para mim mesmo com júbilo: o último desequilibrio =).

Uma descarga de adrenalina faz com que veja o filme da minha vida em 8 segundos. Um filme muito mal realizado. O argumento era péssimo. O actor passava o tempo todo a improvisar e a fugir ao guião.

Acordo, em sofrimento causado pela ressaca. Dirijo-me ao quarto que em tempos era ocupado por ti!Mas não está lá ninguém. Tudo fruto de um improviso meu, de uma atitude radical sem medo algum que fosse das possíveis consequências. Pela primeira vez sinto medo. O medo de não te voltar a ver ali!


Músicas durante a escrita do texto -» This Love by Pantera; Use the man by Megadeth; The Unforgiven by Metallica.

3 comentários:

Anônimo disse...

humm gostei muito mesmo :)

Luciana Ferreira disse...

Que belo texto, Zé!Não sei onde começa a ficção e a realidade, nem sei das metáforas, mas viajei com a personagem até o momento de sua última agonia.
Lindo.

José Oliveira disse...

obrigado Te, Lu ;)!