Make me believe

Hoje algo mudou ao nível das minhas crenças!

O meu amigo Zé, perante uma doença grave do pai, prometeu a Nossa Senhora de Fátima uma peregrinação ao Santuário caso ele melhorasse. O pai melhorou, e amanha a promessa será cumprida. Mas o Zé só levava mais um amigo na carteira! Eu não sei muito sobre peregrinação. Já fui a Fátima de bicicleta, por desporto! Houve vezes em que galguei os 170 kms e fiquei a rir-me, e era capaz de galgar mais umas dezenas. Houve vezes em que cheguei lá completamente esgotado. Houve inclusive uma vez que desisti a 50 kms do fim. Mas ir a Fátima de bicicleta é algo que "é fácil". Sei que pareço cínico, porque a maior parte das pessoas não consegue fazer 80 kms de bicicleta, quanto mais o dobro. Alguns fazem mas demoram um dia. Nós fazíamos em 6 horas. A bicicleta é fascinante quando a sabemos usar. Mas a pé, isso é outra história. O que nos demorou 6 horas de bicicleta, vai demorar 3 dias a pé. As pernas doridas e as queimaduras solar da bicicleta não são nada comparadas com os inchaços e bolhas da caminhada. Em treino, caminhei 4 horas em Aveiro, e fiz uns míseros 20 kms. E fiquei completamente rebentado. Mas pobre do Zé, prometeu lá ir e quase não tinha apoio, e o factor psicológico conta imenso nestas coisas. Não pude deixar o meu amigo desamparado e imediatamente prontifiquei-me a ir.

O que inicialmente eu encarava como "Oh, eu vou na desportiva, se não chegar não é grave, vou até onde aguentar" depressa se converteu em: "Ah, eu sou lá gajo para parar...mesmo que esteja todo agonizado de dor, se me perguntarem: Então Zé, estás cansado? a resposta será: Achas? estou aqui que nem um caibro"...Soube logo que não vou parar de palmilhar por muito que me doam os músculos ou o que for. E daqui a nada vou levantar-me (ás 4 da manha para ser preciso) e partir para esta aventura na companhia exclusiva do meu melhor amigo! E eis que dou por mim, antes de dormir, com um frio na barriga e com um certo receio. Isto não parece meu, nunca tenho receio, muito menos destes desafios onde simplesmente me atiro de cabeça e, enquanto eu estiver vivo, não paro! Mas aqui surgiu a verdadeira coisa estranha: de repente questionei-me o porque disto tudo? Quando alguém está terrivelmente mal, agarramos-nos ao divino e sacrificamos-nos em troca de um favor. Bem, para não fazer isto em vão, também pedi um pequeno favor! Pondo-me de joelhos, fechei os olhos e disse: "Olá! Sei que não me tenho portado muito bem ultimamente! Nunca portei, para ser franco, não é que Tu não o saibas. Bem, antes demais, obrigado pela ajuda neste ano da Universidade; não foi perfeito, mas podia ter sido bem pior. Amanha vou a Fátima a pé, e não vou parar independentemente do que me doer. Só te quero pedir uma coisa: toda a dor que eu sentir ao longo da viagem, quero que a poupes aos meus pais. Tudo o que eu sentir de mau, alivia-o a eles! Se possível, ajuda-me a ser uma pessoa melhor. Obrigado"

Isto foi estranho! Nem sei como me lembrei de fazê-lo e, é aqui que reside uma certa magia nestas coisas.

Daqui a alguns dias estou aqui a contar tudo sobre esta peripécia.

Thanks fellows *