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Quem me conhece sabe que adoro usar metáforas para explicar certas coisas....

Eu acho as metáforas um recurso estilístico esplêndido, que nos dão a possibilidade de fazer comparações sem usar o "como" (foi esta expressão que decorei no 9º ano para detectar metáforas)...

Vou usar hoje uma metáfora para explicar o que acho do mundo actual....Se o mundo for um comboio, acho que todos concordamos que esse comboio está na eminência de descarrilar...

Analisando o passado dos comboios, começando na máquina a vapor, vemos que era muito poluente, lenta, havia um elevado risco de explodir se uma simples válvula da caldeira encravasse, etc. Foi havendo evolução, e hoje já temos o TGV, e no Japão existe mesmo o MagLev, um comboio que levita, e como não existe atrito entre ele e a superfície, pois estes não se tocam, atinge velocidades estonteantes e ninguém o bate em conforto.

Tudo isto parece fantástico. Tudo isto soa brilhante, o homem e a sua capacidade de construir, inovar. Olhamos para a máquina a vapor e pensamos: "Pobrezinha, onde tu já vais"...

Acontece que o homem aposta tudo no progresso tecnológico e, falando Português Nortenho, está a cagar-se para o resto. Não se interessa se tem que destruir florestas, afundar petroleiros, ameaçar espécies raras, etc etc.

Tal como a máquina a vapor, é impensável eu olhar para a infância dos meus avós e desejar tê-la...longe disso, porque foi bastante dura pelo que contam. Eles não percebem os tempos actuais, nós não percebemos a mentalidade de outrora, mas todos admitimos que a infância deles tinha os seus pontos bons, bem como eles admitem que a nossa tem o seu interesse, sobretudo quando precisam de digitalizar um documento ou uma pesquisa na Internet =P

Quanto a vocês não sei, mas eu adorava dar uma volta num comboio a vapor, porque deve ser algo quase mágico. Na altura eles podiam, descontraidamente, apreciar os campos verdejantes e as paisagens, hoje nós só vemos muros e terrenos a monte, ofuscados pelas silvas...

As últimas décadas foram décadas de viragem absoluta, porque basta alguém com fama fazer algo contra as regras que é logo um ídolo e todos imitam. Tenho pena que não haja essa vontade para imitar o Al Gore por exemplo. Não, o Al Gore não é fixe, é demasiado consciente e dedica a sua vida a tentar salvar o planeta. Não vamos por aí, destruir é que é. Enfim -_-''

Irrita-me profundamente ver os políticos Portugueses a falar de problemas ambientais quando não encontramos nem um posto onde deixar uma bicicleta à porta do parlamento. Quanto a carros, tudo BMW's 740 e Audis A8 para cima. Estamos a falar de monstros com motores de 4000 de cilindrada que mandam imensas gramas de CO2 para a atmosfera por cada quilometro que fazem. Mas não, os senhores ministros precisam daquele carro, porque viajam muito. POR AMOR DE DEUS, eu fiz Aveiro-Alentejo e voltei a Aveiro no mesmo dia, NUM FIAT UNO de 1988. Fiz 700 kms num dia de Fiat Uno e não morri. Até achei bastante engraçado. Nem peço que andem de Fiat Uno, ao menos que dêem o exemplo e comprem um híbrido para disfarçar. E sim, um híbrido sai mais barato que os carros de luxo que usam.

Tema da actualidade em Portugal: TGV...um projecto que custa vários milhões de euros. Portugal está com um défice orçamental enorme, com a maior taxa de desemprego que alguma vez foi atingida, mas toca a meter o TGV, o povo paga. Um político da oposição disse, à uns dias atrás, que não percebe esta ideia de meter um TGV se o governo podia simplesmente dar um Porsche a cada Português e ainda ficava mais barato.

Da máquina a vapor ao MagLev tudo evoluiu. Não nos podemos esquecer que em Português, a evolução negativa, ou regressão, continua a ser chamada de evolução. Tudo evoluiu positivamente à excepção de pequenos pormenores que não interessam a ninguém, como o respeito, a dignidade, os valores da família e essas mesquinhices que ninguém liga. Quando vamos a andar de comboio, ninguém se lembra das linhas, lembramo-nos apenas de fazer a viagem rápido e confortavelmente. Os valores humanos são as linhas. E quando estas estão danificadas, catástrofes acontecem.

Meus caros, se o mundo fosse um comboio, permitam-me corrigir o que disse lá em cima: não está na eminência de descarrilar, já descarrilou à imenso tempo